quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

ÚLTIMA REUNIÃO E RODA DE 2010

O Instrutor Paulista
Convida a todos os membros da Escola de Capoeira Arte da Ginga a se fazerem presentes à última reunião e última roda do ano de 2010, a qual acontecerá hoje, dia 29/12/2010, a partir das 19h00, na Escola Denizard Macedo.
O Diretoria da Escola de Capoeira Arte da Ginga deseja a toda a família Arte da Ginga um réveillon cheio de paz e um 2011 repleto de sucesso e properidade.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

PASTINHA, O GUARDIÃO DA CAPOEIRA ANGOLA


Vicente Joaquim Ferreira Pastinha dizia-se predestinado a uma missão: jogar capoeira. E assim o fez durante os 82 anos em que se dedicou à causa da Capoeira Angola.

Filho de um espanhol, José Señor Pastinha e de uma negra baiana, Raimunda dos Santos, Pastinha nasceu a 5 de abril de 1889, na cidade de Salvador, Bahia.  

Pastinha foi marinheiro, jogador de futebol, chegando mesmo a treinar no Ypiranga, seu time do coração e cujas cores do uniforme (preto e amarelo) adotou com cores do vestuário de seus alunos. Foi engraxate, vendedor de jornais, praticou esgrima e ajudou na construção do porto de Salvador. Foi alfaiate, garimpeiro e, embora de compleição franzina, tornou-se leão de chácara, aos 16 anos, quando passou a tomar conta de uma casa de jogo.

Essas profissões foram passageiras na vida de Pastinha, pois seu desejo maior era viver de sua arte. Além de capoeirista, foi pintor, poeta popular e em 1964 lançou o livro Capoeira Angola, com orelha escrita por Jorge Amado, seu amigo pessoal. Mais tarde lançou um disco com toques e cantigas de capoeira.

Pastinha ingressou na capoeira devido as constantes surras que levava de um garoto vizinho que ao vê-lo sair de casa, e com o apoio da mãe, corria a seu encalço para mostrar-lhe a sua supremancia.

O porte físico de Pastinha levou o preto Benedito, um ex-escravo que morava nas cercanias, a chamá-lo da janela de sua casa, após assistir a uma briga dos dois menores: vem cá, meu filho... Você não pode com ele, sabe, porque ele é maior e tem mais idade. O tempo que você perde empinando arraia vem aqui no meu cazuá que vou lhe ensinar coisa de muita valia.

O preto Benedito costumava dizer a Pastinha: não provoque, menino, vai botando devagarinho ele sabedor do que você sabe.

Um ano se passou. Pastinha apareceu e o menino valentão indagou-lhe se tinha viajado ou se se escondera com medo. Pastinha não respondeu, mas o certo é que estava com medo e o menino, ciente disso, partiu logo para a agressão. Porém o inesperado aconteceu: Pastinha com um certeiro rabo-de-arraia mostrou para o rival do que era capaz. A partir daquele dia, o menino que até então fora seu perseguidor, tornou-se seu amigo e admirador.

Pastinha serviu na Marinha de Guerra do Brasil por um período de oito anos, dando baixa em 1910. Ainda em 1910 funda a primeira escola de capoeira, situada no Campo da Pólvora. Seu primeiro aluno foi Raimundo Aberrê, que se tornou um exímio capoeirista. Pastinha foi o filósofo da capoeira angola. Costumava dizer: capoeira tem muitas coisas. Primeira parte: a capoeira tem seu dicionário; segunda parte: tem seu dicionário; terceira parte: tem seu dicionário e quarta parte: tem seu dicionário. Se alguém fosse falar sobre a capoeira, ensinava ele, dissesse somente o que sabia: não vá dizer que a capoeira é o que ela não é, nem vá contar o que não viu ninguém falar; então não vá contar aquilo que não pode contar. Não é todo mundo que vá abrir a boca e dizer eu conheço a capoeira, a capoeira é isso. Nem todos mentais, nem todos sujeitos podem abrir a boca para cantar o que é capoeira não.

Em 1941, Aberrê convidou Pastinha para acompanhá-lo ao bairro da Liberdade, na Ladeira das Pedras, no Gingibirra, onde se formava, todos os domingos, uma roda de capoeira. Lá se encontravam os melhores mestres de capoeira da Bahia de então. Pastinha aceitou o convite, indo ao Gingibirra.

Após vadiar a tarde inteira, o dono da roda, um guarda civil de nome Amorzinho, chamou Pastinha e entregou-lhe a capoeira angola dali para que ele tomasse a frente e a colocasse em seu devido lugar.
Ainda em 1941, Pastinha fundou o Centro Esportivo de Capoeira Angola, registrando-o, mais tarde, em 1952.

Pastinha tinha atitudes que lhe eram peculiares. Gingava de um modo que ninguém conseguia imitá-lo, pois quando vadiava dava a impressão que estava bêbado. Ele dizia: quando eu jogo até pensam que o velho está bêbado, porque eu fico mole e desengonçado, parecendo que vou cair. Mas ninguém ainda me botou no chão e ainda nem vai botar.

Pastinha teve e deixou muitos discípulos dentro da capoeira tais como: João Grande, João Pequeno, Gildo Alfinete, Curió e muitos outros. Era, em suas próprias palavras: o discípulo que aprende, um mestre que dá lição.

Conhecido na Bahia e no exterior, Pastinha contribuiu para a maior difusão da capoeira chegando a representar o Brasil, em 1966, no I Festival de Arte Negra, em Dakar, na África. Embora não tenha jogado capoeira para os africanos, pois estava doente, recebeu a medalha de honra ao mérito e, como embaixador da cultura brasileira, foi bastante aplaudido.

Em 1973, Pastinha foi desapropriado de sua academia, a qual funcionava no Largo do Pelourinho, nº 19. Com a alegativa de que após a restauração do prédio, teria seu espaço de volta, o velho mestre sofreu, talvez, o maior golpe de sua vida: venderam o imóvel e lá instalaram o restaurante do SENAC, que funciona até hoje.

Sem meios de sobrevivência e quase cego pelo glaucoma e catarata, Pastinha retirou-se com a mulher, a filha e três netos para um quarto velho e sujo na rua Alfredo Brito. O lugar era tão pequeno que até o fogão tinha de ser colocado do lado de fora.

Em 1975, conseguiram assegurar-lhe, através de alguns discípulos e do escritor Jorge Amado, um pensão de três salários mínimos, pois sua esposa ganhava o sustento com um tabuleiro de acarajé instalado em frente a um hotel no Pelourinho.

Em maio de 1978, Pastinha sofre um derrame cerebral, seguido de um outro em julho do mesmo ano. Internado, o velho angoleiro pediu aos médicos para que o deixassem ficar no hospital, pois não queria voltar à miséria da rua Alfredo Brito.

Em 1980 vai para o Abrigo D. Pedro II. Lá, esquecido de tudo e de todos, cercado de alguns velhos e funcionários, tem como única companhia fiel sua esposa.

Apesar de tantas injustiças e decepções que sofrera ao longo da vida, Pastinha costuma dizer que desejaria ter a mesma existência para poder promover e divulgar sua arte: a capoeira.

Os últimos dias de Pastinha transcorreram no mais completo abandono. Como consolo tinha apenas um pequeno banco onde sentava e empunhando um berimbau, cantarolava suas músicas. Todos os seus pertences, inclusive quadros de retratos, sumiram, sem explicação, após a perda de seu espaço no Pelourinho. Pastinha ainda sofria por não ter podido reaver sua academia.

Em 13 de novembro de 1981, Pastinha faleceu vitimado por uma parada cardíaca. Tinha 92 anos. No mesmo dia é sepultado no cemitério do Campo Santo, em Salvador, embalado pelo som dolente dos berimbaus de Ezequiel, Curió, Moraes e outros, que assim prestaram uma última homenagem àquele que foi o guardião da capoeira angola no Brasil.

Pastinha era um mulato de estatura mediana, magro, temperamento gentil e acolhedor. Sempre bem humorado, reuniu ao seu redor um grande número de excelentes capoeiristas e segundo Jorge Amado (Pastinha)...é mestre da Capoeira de Angola e da cordialidade baiana, ser de alta civilização, homem do povo com toda a sua picardia... um dos seus ilustres, um de seus obás, de seus chefes. Foi o primeiro em sua arte; senhor da agilidade e da coragem...

Antes de partir, Pastinha teria dito: o segredo da capoeira morre comigo e com muitos outros mestres. Esta frase reflete um desabafo diante da indiferença de tantos ao amor que dedicara a capoeira, bem como a ciência que tinha dos fundamentos sempre negligenciados pelas novas gerações.

Do livro: Resumo Histórico da Capoeira, de Mestre Traíra (Cícero Pereira da Silva FIlho)

ESCOLA DE CAPOEIRA ARTE DA GINGA

Bem-vindos ao blog oficial da Escola de Capoeira Arte da Ginga!
A Escola de Capoeira Arte da Ginga foi criada no dia 01 de agosto de 2003 pelo Instrutor Paulista e o lema da Escola é:

A Capoeira é uma arte de lutar, não pela violência, mas pela liberdade.

Sejam todos bem-vindos à nossa Escola!