quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

REGULAMENTO DO I CAMPEONATO INTERNO DA ESCOLA DE CAPOEIRA ARTE DA GINGA


I – DA INSCRIÇÃO
Art. 1º – poderão participar do I Campeonato Interno da Escola de Capoeira Arte da Ginga todos os alunos da Escola de Capoeira Arte da Ginga, independente de graduação, sendo respeitadas apenas as faixas etárias de cada participante.
Art. 2º – a participação dar-se-á mediante uma inscrição prévia, nas categorias Duplas e Solo, sendo o valor da inscrição de R$ 3,00 (três reais) para cada categoria.
§ 1º – ao inscrever-se o atleta receberá uma ficha de inscrição, a qual servirá também de recibo de pagamento da inscrição.
§ 2º – a inscrição poderá ser feita a partir do dia 20 de janeiro de 2011 e encerrar-se-á no dia 12 de fevereiro de 2011, sem data de prorrogação.
§ 3º – o valor de R$ 3,00 (três reais) deve ser pago no ato da inscrição, sendo vedado o pagamento posterior.
Art. 3º – os jogos serão disputados nas modalidades Angola, Regional e Floreio.
§ Único – todas as modalidades poderão ser disputadas em duplas ou solo.
II – DAS CATEGORIAS E DISPUTAS
Art. 4º – os atletas poderão participar do I Campeonato Interno da Escola de Capoeira Arte da Ginga em duplas ou solo.
Art. 5º – ao inscrever-se na categoria dupla, os atletas disputarão os jogos como outra dupla de acordo com sorteio prévio do árbitro, da seguinte maneira:
I – Em caso de vitória alternada de duplas:
a) Dupla 1: A e B e Dupla 2: C e D.
b) Sorteio feito pelo árbitro: A, da Dupla 1, com D, da Dupla 2. Logo o primeiro jogo será entre A, da dupla 1, com D, da dupla 2.
c) Vencedor: A, da dupla 1.
d) Pontuação: a nota atribuída a A irá igualmente para B, ambos da dupla 1.
e) 2º Jogo: B, da dupla 1, com C, da dupla 2,  sendo vencedor C, da dupla 2. Neste caso, zera a pontuação da dupla 1 e haverá um novo jogo, sendo que desta feita jogarão B, da dupla 1, com D, da dupla 2. Persistindo o mesmo resultado, o desempate dar-se-á pelo primeiro desequilibrante bem sucedido.  
II – Em caso de vitória consecutiva de duplas:
a) Dupla 1: A e B e Dupla 2: C e D.
b) Sorteio feito pelo árbitro: A, da Dupla 1, com D, da Dupla 2. Logo o primeiro jogo será entre A, da dupla 1, com D, da dupla 2.
c) Vencedor: A, da dupla 1.
d) Pontuação: a nota atribuída a A irá igualmente para B, ambos da dupla 1.
e) 2º Jogo: B, da dupla 1, com C, da dupla 2,  sendo vencedor B, da dupla 1. Neste caso, a nota atribuída a B será igualmente atribuída a A, sendo feita a somatória para a pontuação total da dupla.
Art. 6º – as duplas poderão disputar as modalidades angola, regional e floreio.
Art. 7º – as notas a serem atribuídas as duplas, pelos jurados, serão de 0 a 10.
Art. 8º – no jogo de angola e regional serão avaliados, de 0 a 10, os seguintes quesitos:
a) agilidade;
b) destreza;
c) aplicação de desequilibrantes;
d) aplicação de traumatizantes, isto é, apenas será permitida a marcação do traumatizante.
Art. 9º – os jogos solos, quer sejam de angola ou regional,  dar-se-ão entre atletas da mesma graduação, da seguinte maneira:
I – o árbitro chamará dois atletas da mesma graduação;
II – Inicia-se o jogo e o atleta vencedor jogará com o atleta seguinte de sua graduação;
III – O atleta vencedor deste segundo jogo continuará jogando até que finde a sua graduação, definindo-se assim o primeiro, segundo e terceiro lugares de cada graduação

Art. 10º – cada jogo terá a duração de 1  (um) minuto, mas aquele jogador que derrubar seu oponente mediante desequilibrante, antes que se complete 1  (um) minuto,  finalizará o jogo e será proclamado vencedor.
Art. 11 – no jogo de floreio serão avaliados, de 0 a 10, os seguintes quesitos:
a) agilidade;
b) destreza;
c) harmonia com o toque de berimbau.
Art. 12 – no jogo de floreio solo, o atleta se apresentará sozinho aos jurados, sendo sua apresentação também de 1 (um) minuto.
§ Único – no jogo de floreio solo, e apenas no jogo de floreio solo, será permitido saltos, sendo vedado saltos em jogos de floreio na categoria dupla.
III – DA PREMIAÇÃO
Art. 13 – a premiação dar-se-á como segue:
I – a dupla que tirar o primeiro lugar será agraciada com um troféu;
II – as duplas que ficarem em segundo e terceiro lugares serão agraciadas com medalhas de prata e bonze;
III – os atletas da categoria solo serão premiados com medalhas, na seguinte ordem:
a) 1º lugar: medalha de ouro;
b) 2º lugar: medalha de prata;
c) 3º lugar: medalha de bronze.
IV – DOS JURADOS E DA ARBITRAGEM
Art. 14 – os jurados do I Campeonato Interno da Escola de Capoeira Arte da Ginga serão em nº de 3 (três), sendo três especialistas em angola e três especialistas em regional, respectivamente.
Art. 15 – os jurados do I Campeonato Interno da Escola de Capoeira Arte da Ginga, na categoria floreio podem ser tanto angoleiros quanto regionalistas.
Art. 16 – os árbitros serão pessoas ligadas à capoeira, tanto angola quanto regional, serão também previamente convidadas pela direção da Escola de Capoeira Arte da Ginga.
V – DA DATA DO CAMPEONATO
Art. 17 – o I Campeonato Interno da Escola de Capoeira Arte da Ginga realizar-se-á no dia 26 de fevereiro de 2011, sábado, sendo pela manhã os jogos solo e à tarde os jogos em dupla.
§ Único – a premiação dar-se-á logo em seguida ao final das disputas.
VI – DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
Art. 18 – a data da realização do I Campeonato Interno poderá sofrer alteração em função do cronograma de atividades da Escola de Capoeira Arte da Ginga.
Fortaleza, 18 de janeiro de 2011.
Francisco Antonio Moura dos Santos (Instrutor Paulista – Instrutor Presidente)
Fco Batista Lima (Instrutor Dalcin Angoleiro – Instrutor de Formação e Cultura e Capoeira Angola)
Reginaldo Cruz de Freitas (Instrutor Farol – Instrutor de Capoeira Regional)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

TREINO DE CAPOEIRA ANGOLA

O Instrutor Dalcin Angoleiro avisa que nesta quinta-feira, 20/01/2001, haverá treino de Capoeira Angola, a partir das 19h00.

I CAMPEONATO INTERNO DA ESCOLA DE CAPOEIRA ARTE DA GINGA

Você já se inscreveu no I Campeonato Interno da Escola de Capoeira Arte da Ginga, que irá se realizar no dia 26 de fevereiro de 2011? Pois o que você está esperando? Corra, capoeirista, inscreva-se já com o Instrutor Dalcin Angoleiro ou com o aluno Pateta.
Estamos esperando sua participação
Instrutores Paulista e Dalcin Angoleiro

sábado, 8 de janeiro de 2011

GALERA ARTE DA GINGA

MÓDULO V: ASPECTOS E CARATERÍSTICAS DA CAPOEIRA


A capoeira contém em sua essência amplo campo de desenvolvimento bio-psíquico-sócio-cultural.

O desenvolvimento biológico ocorre à medida que o educando da capoeira, conhecendo as fases por que passa sua evolução, tendo noção de seus limites e possibilidades, trabalha seus organismo de forma harmônica e equilibrada.

O aspecto social é privilegiado, na prática da capoeira, uma vez que esta responde às necessidades da criança, do jovem e do adulto, no sentido de solidariedade, de esforço comum de um grupo.

A dimensão psicológica torna-se privilegiada pela possibilidade da busca do equilíbrio emocional, da liberação da espontaneidade e criatividade.

No âmbito cultural, a capoeira permite o resgate do binômio educação e cultura, trazendo em si a mesma importância dos valores culturais em um processo histórico contextualizado.

Partindo desse pressuposto, ressalta-se a importância pedagógica da capoeira que atua, de maneira direta ou indireta, sobre os aspectos cognitivos, afetivos, social e motor.

Para tanto apresenta-se como atividade, segundo as seguintes linhas a serem vivenciadas pelos praticantes dessa arte:

Capoeira Luta: segundo o seu processo histórico, mantém-se como instrumento de combate e defesa pessoal genuinamente brasileira.

Capoeira como Arte e Dança: a musicalidade presente na capoeira, representada pelo equilíbrio entre o canto, o ritmo, os instrumentos e a expressão corporal culminam com a leveza de movimentos e coreografias ensaiadas, possibilitando, como arte, desenvolver flexibilidade, agilidade, destreza, equilíbrio e coordenação.

Capoeira Folclore: como forma de expressão popular, ligada a aspectos da cultura brasileira, deve ser estimulada prática e teoricamente.

Capoeira Esporte: institucionalizada à partir de 1972, deve ser estimulada como processo de cooperação e competição, garantindo-se condições de treinamentos físicos, técnicos e táteis.

Capoeira Educação[1]: como instrumento de educação, a capoeira garante um auto-conhecimento e análise crítica de possibilidades e limites.

Capoeira como Lazer e Filosofia de Vida: como prática não formal, através das rodas espontâneas, a capoeira pode vir a gerar uma filosofia própria de vida onde o sentimento de brasilidade, indispensável ao exercício crítico da cidadania, garante a formação do homem contemporâneo.

Capoeira e Música: o hábito de acompanhar o jogo da capoeira com palmas ritmadas, cantos, chulas, ladainhas, corridos, instrumentos, tais como berimbau, atabaque, pandeiro, agogô etc dá a capoeira um sentido lúdico todo especial, fato que não existe em nenhuma outra arte marcial.

Capoeira e Educação Física: sendo fruto de nossa cultura, a capoeira apresenta-se como atividade física por excelência, desenvolvendo as habilidades físicas do indivíduo, estimulando a coragem, a auto-confiança e a formação do caráter e da própria personalidade.


[1]
Quando foi proclamada a Independência do Brasil, iniciou-se um grande movimento para que a nova nação se desligasse de outros laços que ainda a prendiam a antiga Metrópole. O país não precisava apenas de uma nova Constituição, tinha necessidade de nacionalizar sua educação, extirpar o analfabetismo e, assim, poder melhorar as condições culturais de seu povo.

A educação brasileira, todavia, continuou nos moldes europeus, mas em princípios do século XX, mais precisamente em 1907, surge a primeira tentativa de institucionalizar uma ginástica brasileira, quando do aparecimento do opúsculo O Guia da Capoeira ou Ginástica Brasileira, cujo autor encobria-se com as iniciais O. D . C. e que, na verdade, tratava-se de um oficial do exército que, por temer os preconceitos existentes contra a capoeira, preferia não identificar-se.





Fonte: Resumo Histórico da Capoeira, Mestre Traíra (Cícero Pereira da Silva Filho)

MÓDULO IV: ORIGENS DA CAPOEIRA – SIGNIFICADO DO TERMO



Falar de capoeira não é tão fácil quanto se imagina. Isto se dá em face da escassez de documentação existente. Tal lacuna deve-se, particularmente, a queima dos arquivos sobre a escravidão comandada pelo Sr. Ruy Barbosa, então Ministro da Fazenda do Governo Provisório, através da Circular n º 29, de 13 de maio de 1891. Assim a cultura negra no Brasil perdeu o referencial histórico com o qual haveria de esclarecer sua parcela de contribuição na gênese da Civilização Brasileira.

Quanto a matéria deste trabalho, a Capoeira, pode-se afirmar que há várias teses existentes sobre a sua origem. Principiando pelo nome, querem uns que seja de origem indígena, outros de origem africana, haja vista o predomínio dos negros no desenrolar da história do Brasil, todavia eis o que registra o dicionário sobre o sentido lato do termo: Cap. Jogo atlético, constituído por um sistema de ataque e defesa, de caráter individual e origem folclórica genuinamente brasileira, surgido entre os escravos bantos procedentes de Angola no Brasil colônia, e que, apesar de intensamente perseguido até as primeiras décadas do séc. XX, sobreviveu à repressão e hoje se amplia e se institucionaliza como prática desportiva regulamentada.

Nas narrações do livro A Arte da Gramática da Língua Mais Usada na Costa do Brasil (1595), do padre José de Anchieta, há referencias de que os índios Tupi-Guaranis divertiam-se jogando capoeira. Guilherme de Almeida, crítico literário e poeta, no seu trabalho Música no Brasil, afirma ser a capoeira uma criação indígena. Partindo dessas afirmações, conclui-se que, deveras, o termo capoeira é um vocábulo tupi-guarani que significa terreno em que o mato foi roçado e/ou queimado para cultivo da terra ou para outro fim, ou simplesmente, mato que nasceu nas derrubadas de mata virgem.

Mas, afinas de contas, o que é Capoeira?

Poder-se-ia dizer que é uma pequena perdiz de vôo rasteiro, de pés curtos, corpo cheio, listado de vermelho escuro, cauda curta e que habita todas as matas. Ou que seja uma grande gaiola onde se transportava prisioneiros, ou também víveres. Ou ainda, a essência da herança bantu do N’golo, ritual de passagem a vida adulta, no qual as jovens eram disputadas entre os guerreiros das tribos. No N’golo, quem melhor se sobressai-se, cabia o direito de escolher a esposa sem o pagamento do dote matrimonial.

Na verdade, abstraindo-se do real significado do termo, pode-se dissertar que Capoeira é um jogo atlético, de destreza, muito valioso, que foi criado em razão de uma causa justa: a libertação de um povo sofrido, oprimido pelo chicote dos senhores de engenho.

O eminente etnógrafo Waldeloir Rêgo conta que o vocábulo Capoeira foi registrado pela primeira vez em 1712, no Vocabulário Português e Latino, de Rafael Bluteau e, por volta de 1813, no Dicionário da Língua Portuguesa. Nos idos de 1880, José de Alencar e Macedo Soares propunham que o vocábulo vinha do tupi-guarani caa-apuam-era, ilha de mato cortado, enquanto que Beaurepaire propunha simplesmente o guarani caá-puera, mato miúdo que nasceu no lugar de mato virgem, que foi cortado.

Quanto ao termo, no sentido do jogo de capoeira, as suposições são as mais variadas por se dizer que o negro fujão caiu na capoeira, ou que o escravo foragido procurava a capoeira mato ralo onde poderia movimentar-se com mais facilidade para libertar-se do capitão-do-mato.

A Capoeira tem sido uma das manifestações culturais brasileiras mais estudadas e debatidas, quer seja como forma de luta, dança ou mesmo puro folclore e as abordagens vão das mais simples as mais complexas. Simples se se argumenta o seu aspecto puramente folclórico, complexa se vista pela ótica sociológica, pois que pretende ser a ponta de lança de uma resistência heróica do elemento africano para sobreviver as atrocidades da escravidão.

Antes de ser traçada pela pena dos literatos e receber o status de expressão cultural, a Capoeira correu décadas no labor não distinto dos escrivãos da polícia, quando sofria o estigma do crime e da repressão.

Como já foi citado acima, e à guisa de complemento, consta que a 10 de maio de 1808, Paulo Fernandes Viana é nomeado, por Dom João VI, para dirigir a Intendência de Polícia Civil, enquanto que em seguida, a 13 de maio, foi criada a Polícia Militar, cujo comando coube ao coronel José Maria Rabelo e para auxiliá-lo, no comando das milícias, foi designado o Major Nunes Vidigal, que de pronto desfechou a primeira ofensiva contra a capoeiragem.

Com o advento de República e a crescente onda de capoeiristas que saqueavam, espancavam policiais e mesmos cidadãos civis, principalmente na então Capital do país, o Rio de Janeiro, o Marechal Manuel Deodoro da Fonseca dispara sua primeira ofensiva a Capoeira ao nomear para Chefe de Segurança o Sr. Sampaio Ferraz e ao enfaixar no Código Penal Brasileiro, no capítulo 13, a Lei n º 847, de 11 de outubro de 1890, cujos artigos 399,400, 401, 402, 403 e 404, estabeleciam:

(*) Artigo 399. Deixar de exercitar proffissão,officio ou qualquer mister em que ganhe a vida, não possuindo meio de subsistência e domicilio certo em que habite; prover a subsistência por meio de ocupação proibida por lei, manifestamente offensiva da moral e dos bons costumes:

Pena – de prisão cellular por quinze a trinta dias.

1º Pela mesma sentença que condemnar o infractor como vadio, ou vagabundo, será elle obrigado a assignar termo de tomar ocupação dentro de 15 dias, contados do cumprimento da pena.

2º Os Maiores de 14 annos, serão recolhidos a estabelecimentos industriaes, onde poderão ser conservados até a idade de 21 annos.

Artigo 400. Si o termo for quebrado, o que importará reincidência, o infractor será recolhido, por um a três annos, a colônias penaes que se fundarem em ilhas marítimas, ou nas fronteiras de território nacional, podendo para esse fim ser aproveitados os presídios militares existentes.

Paragrapho único. Si o infractor for estrangeiro, será deportado.

Artigo 401. A pena imposta aos infractores, a que se referem os artigos precedentes ficará extincta, si o condemnado provar superveniente acquisição de renda bastante para sua subsistência; e suspensa, si apresenta fiador idoneo que para elle se obrigue.

Paragrapho único. A sentença que, a requerimento o fiador, julgar quebrada a fiança, tornará effectiva a condemnação suspensa por virtude della.

Artigo 402. Fazer nas ruas e praças publicas exercícios de agilidade e destreza corporal, conhecidos pela denominação capoeiragem; andar em correrias, com armas ou instrumentos capazes de produzir uma lesão corporal, provocando tumulto ou desordens, ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor ou algum mal:

Pena – de prisão celular de dous mezes a seis mezes.

Paragrapho único. É considerado circumstância aggravante pertencer o capoeira a alguma banda ou malta.

Aos chefes, ou cabeças, se imporá a pena em dobro.

Artigo 403. No caso de reincidência, será applicada ao capoeira, o gráo máximo, a pena do art. 400

Paragrapho único. Si for estrangeiro, será deportado depois de cumprida a pena.

Artigo 404. Se nesses exercícios de capoeiragem perpetrar homicídio, praticar lesão corporal, ultrajar o pudor público e particular, perturbar a ordem, a tranquillidade ou segurança pública, ou for encontrado com armas, incorrerá cumulativamente nas penas comminadas para taes crimes.

(*)Ortografia original da época.

Deixando de lado o aspecto legal, encontra-se a história da Capoeira dividida em três períodos:

Período de Escravidão – a Capoeira, uma forma de luta, teria se disfarçado em dança para iludir e contornar a proibição de sua prática por parte dos feitores e senhores de engenho.

Período de Marginalidade – após a abolição da escravatura, em 13 de maio de 1888, ex-escravos capoeiristas não teriam encontrado lugar na sociedade e caíram na marginalidade, levando consigo a Capoeira, até então proibida.

Período das Academias – já na década de 30, foi revogada a lei que proibia sua prática pelo presidente Getúlio Vargas. Abriram-se as primeiras academias em Salvador. A Capoeira saiu das ruas, da marginalidade e começou a ser ensinada e praticada em recinto fechado.

A primeira academia de Capoeira a ser registrada no Brasil foi a de Manoel dos Reis Machado, na Roça do Lobo, Rua Bananal, n º primeira pri 4, Tororó e depois no Terreiro de Jesus, Rua das Laranjeiras, n º 1, Térreo (depois primeiro andar), no Maciel de Cima, cujo o nome era recebeu Curso de Educação Physica e recebeu o processo de registro de n º 305/1937/AP/NCL, assinado pelo Dr. Clemente Guimarães, então Inspetor Técnico do Ensino Secundário Profissional, no dia 09 de julho de 1937.

No dia 23 de julho de 1953, o presidente Getúlio Vargas libera oficialmente a Capoeira como sendo o único esporte genuinamente brasileiro.

Em 26 de dezembro de 1972, a Capoeira foi oficializada pela Confederação Brasileira de Pugilismo, através de seu Departamento de Capoeira, e em seguida o processo foi homologado pelo Conselho Nacional de Desportos (CND), entrando em vigor no dia 01 de janeiro de 1973.

Após mais de quatrocentos anos de proibição e perseguições, o jogo de Capoeira chega aos nosso dias como um conteúdo artístico, filosófico, cultural e social herdado do elemento africano, que ao chegar em terras brasileiras, apesar da condição de cativo, contribuiu indiscutivelmente para a formação da raça brasileira.

A Capoeira é a única arte marcial que utiliza instrumentos musicais para cadenciar e animar os seus atletas à medida que se desenrola a contenda, também é hoje praticada em todo o território nacional, assim como em quase todos os países da Europa, partes da Ásia, África e Oriente Médio.

Fonte: Resumo Histórico da Capoeira, Mestre Traíra (Cícero Pereira da Silva Filho)

MÓDULO III: O QUILOMBO DOS PALMARES



Os Quilombos foram, sobretudo, uma reação coletiva dos negros africanos contra o elemento dominador branco. Instalaram-se por toda parte onde imperava a escravidão, ou seja, todo o Brasil colônia.

Segundo Nei Lopes, da Fundação Cultural Palmares, a organização em kilombo – mistura de arraial militar, núcleo habitacional e comercial, supratribal e supraétnico (comum na Angola daquele tempo) – se deu quando escravos de um grande engenho da Capitania de Pernambuco, em fins do século XVI, depois de uma sangrenta rebelião, refugiaram-se na Serra da Barriga, numa zona em que as palmeiras abundavam, sendo por isso conhecida como Palmares, a qual pertence atualmente ao Estado de Alagoas.

Quilombos, dentro do modelo angolano, afloraram noutras partes da América, onde eram chamados de Cumbe ou Palanque. No Brasil, o primeiro quilombo que se tem notícia surgiu em Pernambuco, em 1558, e chamou-se Cumbé, porém a Confederação de Palmares, nascida por volta de 1590, transformou-se num real perigo à Metrópole em virtude de sua poderosa organização. Se no princípio, negros fujões construíram, às pressas, barracos, quase sempre cobertos de palha, numa região de difícil acesso, com o tempo aquela desorganização inicial cedeu a estruturação organizacional do reduto. À força da necessidade de sobrevivência, negros palmarinos acorriam a saltear, às vezes, os engenhos vizinhos, mas a essa prática seguiu-se o desenvolvimento de uma agricultura que, para os padrões locais e da época, era extremamente avançada. Plantava-se batata e legumes, cana-de-açúcar, feijão, milho e mandioca; fabricava-se artefatos de palha, vinho e manteiga; criava-se porcos e galinhas e, sendo necessária à defesa e subsistência do quilombo, desenvolveu-se uma organizada atividade metalúrgica.

As guerras ocorridas com a invasão holandesa a Pernambuco, em 1630, motivou a fuga maçica de gente, que veio engrossar a população de Palmares. Por essa época, a Confederação já comportava cerca de 3.000 aquilombados.

As investidas militares a Palmares, tanto de portugueses quanto de holandeses, somaram-se 66 e encontram-se, segundo Ivan Alves Filho, eminente historiador dos conflitos bélicos palmarinos, divididas em quatro fases: a primeira, de 1596 a 1630, consta de ataques a quatro ou cinco aldeamentos; a segunda, de 1631 a 1654, quando da ocupação holandesa a Pernambuco, consta de investidas tendo como foco a cidade de Macacos, principal reduto palmarino; a terceira, de 1655 a 1694, consta de cruentas batalhas onde ocorre a rendição de Macacos; e a quarta, quando da morte de Zumbi (1695) e de seus sucessores Camuanga (desaparecido em 1699) e Mouza do Palmar (1716). Ainda em 1725 encontravam-se tropas militares na Serra da Barriga e a ocupação final da região dar-se-ia apenas em 1736.

Palmares teve várias lideranças durante sua longa existência, mas apenas duas delas, as de Ganga-Zumba e Zumbi, merecem papel de destaque nessa epopéia pela liberdade.

Palmares encontrava-se socialmente organizado e estruturado, em 1655, quando Zumbi nasceu. Ele era filho de Sabina, irmão de Ganga-Zumba, então chefe do Quilombo. No entanto, récem nascido Zumbi foi capturado quando uma coluna comandada por Brás da Rocha Cardoso conseguiu aprisionar alguns negros palmarinos. A criança capturada foi entregue a um importante clã de Alagoas, a família Lins, a qual tinha financiado aquela expedição ao quilombo. Os Lins, por sua vez, deram o menino como presente ao pároco de Porto Calvo, padre Antonio Melo.

O padre Melo encarregou-se da educação do menino. Batizou-o com o nome de Francisco, ensinou-lhe a ler e, aos dez anos, investiu-o com coroinha. Com o tempo, Francisco provou ao pároco sua inteligência: aprendeu o latim e dominava corretamente a língua portuguesa. A influência da Igreja não arrefeceu, no entanto, o espírito guerreiro de Zumbi. Em 1670, numa madrugada fugiu para Palmares e juntou-se novamente ao seu povo.

O retorno ao Quilombo deu-se no período de paz, justamente devido a presença holandesa em Pernambuco, quando os portugueses estavam mais preocupados em expulsar os invasores do que investir contra Palmares. Com a vitória portuguesa, reintensificaram-se as expedições com a finalidade de aprisionar e dar cabo dos quilombolas.

Entre vitórias e derrotas, o líder Ganga-Zumba decide assinar um tratado de paz com a Coroa Portuguesa. Zumbi, que já tinha um papel de destaque na organização sócio-política de Palmares, opôs-se ao tratado por três motivos: primeiro, a paz, segundo ele, só aconteceria com a criação de uma sociedade livre e independente; segundo, o tratado não assegurava a liberdade aos negros brasileiros; terceiro, o tratado pretendia dividir os negros, em vez de garantir-lhes a liberdade.

Apesar da oposição, o tratado foi assinado em 5 de novembro de 1678 por Ganga-Zumba, na cidade do Recife e continha os seguintes termos: 1º) os pretos nascidos em Palmares eram livres; 2º) os que aceitassem a paz, receberiam terras para viver livres; 3º) ficava liberado e legalizado, o comércio entre negros e povoados; 4º) como quaisquer outros, os negros que aceitassem a paz passariam a vassalos da Coroa Portuguesa.

A insurreição de Zumbi foi quase imediata. Aliando-se aos chefes revoltados de outros mocambos, Zumbi marchou sobre Macacos - Serra da Barriga - e destituiu Ganga-Zumba da liderança político-militar do Quilombo dos Palmares. Ganga-Zumba deixa então Palmares e refugia-se com os seus no arraial de Cucaú, próximo ao litoral, onde morre envenenado em 1680.

A frente do governo palmarino, Zumbi decidiu combater a metrópole subordinando toda a estrutura social às exigências de guerra. À medida que deslocava mocambos para outros pontos, aumentava também os postos de observação e vigília para a orla da mata. Após a infiltração de espiões nas cidades e engenhos, realizou investidas nessas localidades conseguindo munições e armas, com as quais reforçou o arsenal bélico da capital de Palmares, Macacos. Decretou a lei marcial: qualquer desertor do Quilombo estaria condenado a pena capital por decapitação. Zumbi resistiu aos ataques portugueses, retribuindo com iguais incursões aos povoados de São Miguel, Penedo, Alagoas dentre outros.

Enquanto Zumbi estava no comando do governo palmarino, não houve acordo nem trégua com a Coroa. A luta, no entanto, recrudesceu nos anos de 1693 a 1694.

A Metrópole sabia do poder de Palmares e para destruí-lo não poupou esforços ao organizar um contingente nunca antes visto em toda a história colonial brasileira: 11.000 homens. A frente da expedição estavam Fernando Bernardo Vieira de Melo, Sebastião Dias Mineli e o bandeirante Domingos Jorge Velho, comandante em chefe das tropas.

Palmares preparou-se para a vinda do inimigo. Com a construção de fortificações sólidas, Macacos foi circundada por três cercas de madeira e pedras num raio de cinco quilômetros e meio. Guaritas, no interior da cerca, garantiam a observação das tropas invasoras. Para impedir o avanço das tropas portuguesas, na parte externa das fortificações, escavou-se fossos e lagos camuflados pela vegetação.

O exército invasor construiu, por seu turno, uma contra cerca que acompanhava as fortificações palmarinas com o intuito de proteger-se das investidas quilombolas.

No dia 23 de janeiro de 1694, as tropas de Domingos Jorge Velho marcharam contra Palmares, sendo rechaçadas. Nova tentativa, em 29 do mesmo mês, resultou em perdas enormes.

O Bandeirante paulista pediu reforço ao governo da Província de Pernambuco, sendo prontamente atendido com o envio de homens, alimentos e seis canhões.

A construção de uma contra cerca oblíqua entre as fortificações de Palmares e a já existente contra cerca deu-se na noite de 4 para 5 de fevereiro de 1694. Num ponto onde a fortificação acabava num desfiladeiro, por isso menos guarnecida, os portugueses aproveitaram-se de um descuido da sentinela quilombola e, finalmente, atacaram Macacos. A invasão estava consumada.

A Cerca Real de Macacos - Serra da Barriga - último reduto palmarino, caiu nas mãos inimigas na noite de 6 de fevereiro de 1694. A destruição implacável, com assassinato de centenas de quilombolas que não conseguiram fugir, seguiu-se a notícia do suicídio de Zumbi, fato imediatamente comunicado ao rei português pelo Governador Melo e Castro.

Domingos Jorge Velho, no entanto, estava convencido de que o líder quilombola continuava vivo. Na verdade, Zumbi fugira de Macacos com aproximadamente 2.000 combatentes.

No princípio de 1695, constatou-se que Zumbi estava, de fato, vivo, pois registrou-se sua presença em várias áreas de Palmares, bem como deu-se, por parte do guerreiro palmarino, uma tentativa de invasão a Penedo, em meados do mesmo ano, talvez com o intuito de conseguir munições e armas.

A cabeça de Zumbi estava a prêmio.

Antonio Soares, lugar tente de Zumbi, comandava grupos em incursões pelas vilas e numa dessas incursões foi reconhecido e preso. Considerado homem de confiança do líder negro, foi enviado a Recife, mas no caminho a escolta foi interceptada por André Furtado de Mendonça, chefe de uma coluna paulista. Torturado, Antonio Soares reveleou o esconderijo de seu chefe.

Localizado na Serra Dois Irmãos, próximo a um sumidouro do rio Parnaíba, Zumbi não teve tempo de fugir. Soares aproximou-se e o esfaqueou no abdômen. Mesmo ferido de morte, Zumbi lutou com bravura matando alguns bandeirantes que acorreram para assassiná-lo. Não resistindo a sanha dos inimigos, tombou sem vida no dia 20 de novembro de 1695.

O corpo de Zumbi foi transportado para Porto Calvo. O cadáver contava quinze perfurações a bala, inúmeras de arma branca. Uma das vistas fora arrancada e a mão direita decepada. Banga, guerreiro palmarino e amigo de Zumbi, preso vivo, o senhor de engenho Antonio Pinto, o lavrador Antonio Sousa, além dos escravos Francisco e João foram levados a reconhecer o corpo como de Zumbi.

O bandeirante André Furtado de Mendonça sugeriu a Câmara de Porto Calvo que se decepasse a cabeça do líder negro e a enviasse ao Recife. Lá o governador Melo e Castro mandou içá-la em praça pública até sua completa decomposição.

A morte de Zumbi, aos quarenta anos, não diminuiu a esperança dos negros em busca da tão sonhada liberdade, por isso a data do massacre de seu líder, 20 de novembro, é considerada dia da consciência negra – consciência do homem escravizado que naquela contenda exibia uma superioridade que punha o inimigo alvoroçado, porque nos embates, corpo a corpo, havia um jogo de braços, pernas e troncos, o qual o branco europeu não sabia revidar. Foi então que se espalhou a fama de uma auto defesa de negros chamada capoeiragem.


Fonte: Resumo Histórico da Capoeira, Mestre Traíra (Cícero Pereira da Silva Filho)