sábado, 8 de janeiro de 2011

MÓDULO I: O TRÁFICO NEGREIRO



O comércio negreiro teve origem em meados do século XV. Seus precursores foram os portugueses, pois ao atingirem o litoral africano, depararam-se com populações que se tornaram presas fáceis em suas mãos. Assim, ao lado de outras riquezas exploradas, como o ouro e o marfim, também o africano passou a ser um objeto de comércio, isto é, uma mercadoria.


A comercialização do negro ocorreu, inicialmente, na Europa, onde a demanda não era grande, e o negro foi utilizado nas plantações do Sul de Portugal, nas minas da Espanha e nos serviços domésticos em geral, inclusive, na França e Inglaterra.


O primeiro carregamento de negros para Portugal, segundo o que nos conta João Lúcio de Azevedo, ocorreu em 1443, e comportou 235 pessoas. Eram criaturas na maior miséria em que se podem ver seres humanos.


Extraídos dos porões escuros, debilitados por fome e maus tratos, eram repartidos em lotes, ao acaso do momento ou de um capricho. Os homens cabisbaixos, no pavor da sorte obscura, mulheres chorando pelos filhos, dos quais eram separadas, meninos em pranto, engrossava assim o coro hediondo do tráfico.


No entanto foi somente a partir da colonização da América Espanhola que o tráfico negreiro tornou-se realmente um setor do comércio colonial, gerando assim grandes fortunas na Metrópole.


Embora para as Índias Castelhanas o escravo negro tenha ido desde a primeira hora e, apesar das notícias da utilização de escravos nas Ilhas Antilhanas desde 1501, foi em 1510 que a Coroa Espanhola adquiriu 250 negros para o Novo Mundo, com o intuito de vendê-los aos Colonos. Portanto, originou-se, a partir daí a agricultura de exportação e, consequentemente, a dependência estreita do mercado externo com os centros decisórios fora das fronteiras coloniais.


Dessa forma, se na Ásia e na África foram suficientes a constituição de feitorias onde se guardavam os artigos de luxo, tais como as especiarias, de lá também saíram os homens escravizados que, vendidos na Europa, propiciavam lucros para a Metrópole.


A exploração comercial favorecia apenas a Europa, mas as terras do Novo Mundo precisavam dar lucro para somar com o acúmulo de capital já existente em solo luso-hispânico. Daí surgiu a necessidade de povoar as Colônias e valorizá-las. Sendo assim, à medida que a ocupação das Ilhas da Jamaica, de Cuba, de São Domingos e Haiti processava-se, crescia a demanda de mão-de-obra e aumentavam as solicitações para que o rei espanhol contratasse com o Monarca Português a introdução de escravos africanos.


Finalmente, em 1518, Carlos V atendeu ao pedido dos colonos, consentindo pela primeira vez que 400 pretos destinados ao Haiti, fossem para lá diretamente da África. Porém, desde 1514, os Portugueses já contrabadeavam o negro com as ilhas Antilhanas, com o Haiti, e ainda havia uma corrente regular de escravos para a Espanha que, por sua vez, enviava-os aos mercados americanos.


A partir de 1580, em troca do apoio dado as pretensões de Felipe II, rei da Espanha, em anexar a Coroa Portuguesa, a burguesia mercantil lusitana conseguiu o Asiento, isto é, o direito de vender, com exclusividade, escravos africanos nas colônias espanholas. Era o fim do contrabando e a garantia oficial do lucro.


Inicialmente, a entrada dos africanos no Brasil esteve sempre aquém das necessidades dos proprietários, uma vez que colonos e donatários freqüentemente solicitavam ao rei permissão para resgatarem, diretamente, escravos da Guiné. Isto ocorreu, por exemplo, em 1539, com Duarte Coelho.


As primeiras referências sobre o tráfico de escravos para o Brasil datam de 1550, quando a Metrópole fez chegar uma partida de africanos em Salvador, para ser dividida entre os seus moradores.


A procedência dos negros brasileiros é da África Super Equatorial e Meridional, ou melhor, Sudanesa e Bantu. Ambas as correntes tiveram elevado coeficiente numérico. Dos sudaneneses, vieram as nações mais comuns da Bahia: Jalofos, Mandingas, Fulos, Haussás, Yorubás ou Nagôs, Ashantis e Gegês ou Ewes. Na Bahia, predominavam os negros da Guiné.


Os negros Bantus foram os Angolas, Congos ou Cambindas, Benguelas e Anjicos, Cassanges, Bangalos ou Imbangalos, Dêmas e Macúas. No Sul do Brasil, predominaram os Bantus, nos Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, bem como no Norte do Pernambuco e Maranhão. Estas etnias, no entanto, são diversas e mal conhecidas, refletem-se nas denominações confusas dos negros, que muitas vezes permanecem uma incógnita sem solução. Tanto para o historiador, como para o antropólogo, a questão étnica, às vezes, assemelha-se a um labirinto.


Ao chegarem ao Brasil, os escravos eram alimentados com sopa de milho, a fim de ficarem fortes para posterior venda, nos mercados de negros onde eram submetidos a exames por seus interessados, e os vendidos eram levados para a casa do comprador ou fazenda e empregados em diversos tipos de serviços, tais como: cozinheiro, mordomo, mãe-de-leite ou babá, cantador, mineiros (depois das descobertas das minas, o negro já sabia manusear os minerais, principalmente o ferro), reprodutores e inúmeros outros serviços, nos quais a força bruta era necessária.


Durante a viagem, e também nas fazendas, morreram vários negros, vítimas de uma doença chamada por eles de Banzo (doença da saudade). O Banzo consistia numa moléstia em que o negro, por querer voltar a sua terra natal era acometido de uma imensurável melancolia e decidia-se a recusar toda a alimentação que lhe era oferecida. Incontáveis foram os óbitos por esta cruel nostalgia.


O navio no qual o negro vinha era apelidado de Tumbeiro, o que significa túmulo. Ali muitos negros morriam durante a viagem, também vítima de doenças, tais como o escorbuto, e dos maus tratos, tanto físicos quanto alimentares.


Os negros quando comprados eram marcados com ferro quente pelo comprador – muito tempo depois este método atroz foi proibido. Na maior dificuldade e maus tratos de moradia, os escravos viviam em Senzalas, habitações de um único compartimento e eram eles responsáveis por todos os trabalhos nos canaviais, nas oficinas e nas Casas Grandes – as sedes das fazendas e engenhos.


Os negros, no entanto, não permaneceram de braços cruzados diante daquela realidade tão opressiva, pois enquanto existiu escravidão, houve também reação, seja através de luta individual, como a prática de suicídio, de aborto e doutros aspectos, dentre os quais podemos citar as insurreições – originando as fugas e a posterior formação de quilombos - , as tocaias a Capitães-do-Mato e Feitores. Vale ressaltar que não podemos olvidar a prática religiosa, haja vista que em sua grande maioria os negros eram animistas, isto é, praticavam, mesmo às escondidas, seus cultos e pagavam tributos aos seus deuses ancestrais.


O Brasil foi o último país a abolir a escravidão, sendo o maior importador de escravos do chamado Novo Mundo. A Liberdade veio, finalmente, em 13 de maio de 1888, quando através da chamada Lei Áurea, a filha do Imperador Dom Pedro II, o qual na época encontrava-se na Europa, a Princesa Isabel, então como regente, fez com que as algemas, senzalas e pelourinhos fossem definitivamente varridos da Civilização Brasileira.


A abolição, porém, não se deu por mera piedade ou religiosidade da Princesa Isabel. Foi, podemos afirmar, uma questão política, tanto interna quanto externa. Interna, posto que o recém nascido Partido Republicano atacava a Monarquia impingindo-lhe a culpa de tão desumana prática, ou seja, a escravidão; e externa, pois países credores do Brasil, principalmente a Inglaterra, achavam que o Capitalismo Ruralista Brasileiro era um entrave para a expansão do Capitalismo Industrial, onde, mesmo pagando mão-de-obra, o produto tornar-se-ia melhor e, lógico, mas bem manufaturado.


Em suma, o Brasil foi o país que mais recebeu escravos africanos em todo o mundo. Dos 9.566.100 escravos seqüestrados da África para trabalhos forçados nos países da América do Norte, Central e do Sul, e Ilhas do Caribe, o Brasil recebeu sozinho 3.646.800 cativos, representando 35,2% de todos os escravos do mundo.


Os números e percentuais que aqui se apresentam são apenas suposições, haja vista que os registros oficiais de compra e venda de escravos no Brasil, bem como a origem dos negros contrabandeados da África, foram queimados, graças as ordens do Sr. Ruy Barbosa, então Ministro da República, perdendo-se assim a precisão de dados das inúmeras levas de cativos que aportaram em solo brasileiro.






Fonte: Resumo Histórico da Capoeira, Mestre Traíra (Cícero Pereira da Silva Filho)

Um comentário:

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